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Francisco Cartaxo

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Agruras de José Dirceu

27/09/2015 às 02h24

Por Francisco Frassales Cartaxo

A angústia de José Dirceu é visível nas imagens da tevê. Impossível disfarçar. Não é para menos. José Dirceu de Oliveira e Silva construiu singular trajetória política desde cedo, quando atuava no agressivo movimento estudantil antes do AI -5. As primeiras prisões forçaram sua adaptação à agonia da vida clandestina. No entanto, sua incansável disposição de luta, a experiência de exilado político, a amizade com Fidel Castro e outros personagens latino-americanos, tudo isso, aliada à notória capacidade de liderança, deu a Zé Dirceu a fama de herói. Herói para uns. E bandido, para outros.

No regresso definitivo ao Brasil, ele desenvolveu suas qualidades de articulação, consubstanciada nos passos decisivos para a criação do Partido dos Trabalhadores, tendo sido um dos grandes responsáveis pela sua construção, ao lado de Lula. O primeiro encontro entre os dois, aliás, foi organizado por Frei Betto. Frei Betto? Exato, o dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, que fora preso por suas vinculações com a Aliança Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighela, morto pelas forças da repressão. Frei Betto é o mesmo que esteve em Cuba, este mês, ajudando a preparar a visita do papa Francisco, a quem Fidel deu de presente o livro, escrito por Frei Betto, “Fidel e a religião”! 

Como o leitor pode notar, tudo se encaixa. 

O PT nasceu da confluência de três grandes forças: os trabalhadores organizados em sindicatos do ABC, comunidades eclesiais de base e intelectuais de esquerda. Pela composição social na origem, pelos propósitos éticos e por sua prática inicial, o PT era um partido diferente, que cresceu à sombra do carisma de Lula, prosperando sob o comando pragmático de José Dirceu. Contudo, parece que houve exagero no pragmatismo, ao ponto de desprezarem bandeiras simbólicas. “Eles não fizeram, porque o PT não pode fazer?” “Eles” são os partidos tradicionais. Ainda hoje repetem isso, tentando justificar malfeitorias ligadas ao aparelhamento das instituições públicas, a montagem do sistema de corrupção com recursos de origem criminosa para comprar apoio à governança. E, pasme, até para enriquecimento pessoal! Frei Betto, após afastar-se do PT quando o mensalão ainda estava na fase de investigação, desabafou, no livro “A mosca azul”, a sofrência da “dor de ver um projeto adulterado pela ambição desmedida, a sede de poder, o pragmatismo inescrupuloso, essa esperteza tão pusilânime que acaba por engolir o esperto, como a cobra morde o próprio rabo”. E acusou: “Um pequeno núcleo dirigente do PT conseguiu em poucos anos o que a direita não obteve em décadas, nem nos anos sombrios da ditadura: desmoralizar a esquerda”. 

Em 2009, a candidatura de Dilma já estava definida e Dirceu viajava pelo Brasil a amarrar as pontas das alianças e segurar os petistas perplexos ante o escândalo do mensalão. Mostrava-se otimista. “Se eu conseguir a absolvição e a anistia na Câmara, posso me candidatar em 2014. Mas posso não me candidatar. O que eu quero é provar minha inocência”. Ilusão. Passados sete anos, além da punição imposta pelo STF, Dirceu anda às voltas com novo processo, o do assalto à Petrobras, no qual poderá ser condenado com penas, presumivelmente, mais pesadas. Por quê? Porque tornado, reincidente, ele perderia algumas das regalias concedidas a delinquentes primários. 

Por tudo isso, a angústia de Dirceu virou agrura. Às vésperas de completar 70 anos, talvez aspire um acordo. Que tal uma delação premiada? Quem sabe, quem sabe…

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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