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Francisco Cartaxo

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O cangaceiro Jesuíno Brilhante

14/06/2015 às 13h43

A Fundação Vingt-um Rosado, de Mossoró, publicou este ano a quarta edição de Os Brilhantes, de Rodolfo Teófilo, livro que saiu pela primeira vez em 1895, 16 anos após a morte de Jesuíno Brilhante, o protagonista do romance. Nascido em Patu (RN), seu nome de batismo era Jesuíno Alves de Melo Calado. Foi considerado um cangaceiro do bem, que, dizem, roubava de ricos para dar aos pobres, sobretudo em tempo de seca. Teria sido também defensor de rígidos costumes de sua época: obrigava o malfeitor a casar com a mulher deflorada, justiçava estuprador e não admitia violação de propriedade privada. Tal conduta o diferencia da maioria dos chefes de bando. 

O romance segue os passos de Jesuíno, em suas andanças e lutas no sertão potiguar e da Paraíba, tendo como pano de fundo episódios da história do Brasil monárquico: o movimento dos Quebra-Quilos, a grande seca de 1877-1879, além de retratar a promiscuidade entre os coronéis e o frágil aparelho estatal do Império, a manipulação da força policial e da manipulada Justiça, causas da brutal impunidade daquele tempo. Esses aspectos da sociedade brasileira do século XIX aparecem na narrativa de Rodolfo Teófilo sem afetação pernóstica, muito embora a fala dos personagens seja quase igual a forma de expressar-se o narrador onisciente.  

A causa imediata da entrada de Jesuíno no banditismo foi o brutal assassinato de um parente próximo, presenciado por ele. Essa morte ficou gravada em sua memória, trazendo-lhe à lembrança as façanhas de um familiar, precursor no mundo do cangaço. O livro de Rodolfo Teófilo foca a trajetória do jovem proprietário rural, sobretudo depois que ele assassina com certeira facada no coração um dos responsáveis pela morte daquele seu parente. Este ato de vingança acarreta à família forte perseguição, como a prisão do próprio pai de Jesuíno. A partir daí, Jesuíno forma pequeno grupo de criminosos e passa a operar com táticas de sobrevivência e artimanhas contra inimigos e a polícia. Numa delas, ele se disfarça de mendigo a fim de preparar um assalto à cadeia de Pombal para libertar seu pai. Deu certo. Alcança o intento sem matar ninguém, liberta outros presos e leva as armas dos soldados… 

O romance também descreve com vigor narrativo briga de faca de Jesuíno com um traidor, o drama dos retirantes da grande seca, assaltos a comboio de gêneros alimentícios enviados pelo governo para socorrer flagelados da seca. Intrigante é o amor platônico de Jesuíno por uma retirante que ele encontra desacordada com fome e sede perto de seu esconderijo. Uma mulher que sabe ler, “bonita, muito jovem, ainda com boas carnes”, diz o narrador. Ele a leva para seu refúgio, cuida dela até sua completa recuperação. E nada acontece entre eles! Mas um dia Jesuíno surpreende “olhares de fogo, lançados sobre o rosto moreno da retirante”. Quem ousa? José, escravo liberto, o mais próximo e fiel seguidor. Mais tarde, por ciúme e inveja, José trai seu chefe. Nesse ponto, a narrativa comporta cenas fortes, como a da luta entre Jesuíno e o traidor na presença da retirante.     

Vale a pena reler Os Brilhantes?

Vale, sim. Rodolfo Teófilo não é um escritor qualquer. Farmacêutico, formado na Bahia em 1875, nunca exerceu cargo político, dedicando-se à profissão e aos livros. Escreveu dezenas de romances, contos, poesias e ensaios sobre História Natural, secas e epidemias. E deixou depoimentos de cunho político a exemplo de “A sedição do Juazeiro”.   

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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