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Francisco Cartaxo

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O marechal de costas

01/12/2016 às 08h15

Absolutamente tudo, as conchas, uma flor que se abre, a maré sulcando a areia na praia, traz de volta a Floriano a imagem de uma vagina. Ele está prestes a entrar na sala de mãos dadas ao preceptor, que prefere ser chamado de Bonaparte. Floriano vê a cortina de veludo roxo, com vincos de alto a baixo, dobrados num lábio na boca de cena, e isso também lembra uma vagina.

Assim começa O marechal de costas, exatamente assim, com esse abominável absolutamente, na abertura do romance. Deu-me a impressão de antecipar sacanagem, quem sabe, na linha de ensaios biográficos escritos acerca de fantasias e travessuras sexuais do imperador Pedro I. Cai do cavalo. A vagina, citada duas vezes nas sete primeiras linhas, é, porém, mera indicação do tempo, adolescente, do protagonista do romance de José Luiz Passos, pernambucano radicado nos Estados Unidos. A cena inicial do livro realça tão só a frustrada experiência de ator, vivida pelo rapaz Floriano Peixoto, antes mesmo de seu ingresso na Escola Militar. O tempo, sim, é categoria com a qual o autor brinca ao longo das quase 200 páginas do livro.

O marechal de costas é o terceiro romance de José Luiz.

Ele também escreve ensaios acadêmicos, como o Romance com pessoas, análise de personagens de Machado de Assis, seu foco central na vida acadêmica, exercida na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde ensina literatura brasileira e portuguesa.

A narrativa, em terceira pessoa, apoia-se ainda em dois personagens inominados: um professor e uma cozinheira. O narrador principal conduz a trama, usa lances selecionados da trajetória de Floriano Peixoto, guarda coerência a fatos históricos, sem recorrer a tiradas eloquentes, comuns à história oficial, mesmo quando insere o protagonista em acontecimentos marcantes, como a Guerra do Paraguai e a Revolta da Armada. De permeio, seduz o leitor com casos e personagens secundários. Exemplos? O índio uruguaio de fala arrevesada, Maximiliano Ureña, incorporado à tropa imperial como símbolo da integração no campo de batalha da tríplice aliança contra Solano López. Outra figura: o pernambucano Silvino de Macedo, um rebelde intuitivo e quixotesco que afronta a autoridade republicana e termina sendo fuzilado.

E a cozinheira?

O professor e a cozinheira foram criados para trazer a narrativa à atualidade da vida política brasileira, num arranjo ousado, que permite a José Luiz brincar com diferentes tempos históricos. (Até Napoleão Bonaparte entre pela janela…). A figura da cozinheira emerge para lembrar a família e a origem alagoana de Floriano. Além da matriarcal habilidade feminina na cozinha, quem sabe, o autor insinua afinidades de gênero com a presidente Dilma Rousseff que vira personagem da vida real, com direito a transcrição de trechos de suas falas, adaptados à técnica ficcional. Até o discurso feito às vésperas do impedimento de Dilma lá está, incluído de última hora!

E o professor?

O professor intervém com pedantismo, arrota erudição, cita a propósito e sem propósito autores como Adam Smith, Karl Mark, Clarice Lispector. Em ressumo um chato! Perguntado por que caricaturar dessa maneira o professor, sendo ele mesmo um acadêmico, José Luiz respondeu sem ironia: vivo nesse meio, foi fácil caracterizar o personagem…

José Luiz Passos mergulhou na biografia de Floriano Peixoto e sua época. O romance respeita fatos históricos sem precisar recorrer as aspas, notas de rodapé e excessos de datas, usuais em ensaios, mas impróprios em obras de ficção.

Absolutamente tudo, as conchas, uma flor que se abre, a maré sulcando a areia na praia, traz de volta a Floriano a imagem de uma vagina. Ele está prestes a entrar na sala de mãos dadas ao preceptor, que prefere ser chamado de Bonaparte. Floriano vê a cortina de veludo roxo, com vincos de alto a baixo, dobrados num lábio na boca de cena, e isso também lembra uma vagina.

Assim começa O marechal de costas, exatamente assim, com esse abominável absolutamente, na abertura do romance. Deu-me a impressão de antecipar sacanagem, quem sabe, na linha de ensaios biográficos escritos acerca de fantasias e travessuras sexuais do imperador Pedro I. Cai do cavalo. A vagina, citada duas vezes nas sete primeiras linhas, é, porém, mera indicação do tempo, adolescente, do protagonista do romance de José Luiz Passos, pernambucano radicado nos Estados Unidos. A cena inicial do livro realça tão só a frustrada experiência de ator, vivida pelo rapaz Floriano Peixoto, antes mesmo de seu ingresso na Escola Militar. O tempo, sim, é categoria com a qual o autor brinca ao longo das quase 200 páginas do livro.

O marechal de costas é o terceiro romance de José Luiz.

Ele também escreve ensaios acadêmicos, como o Romance com pessoas, análise de personagens de Machado de Assis, seu foco central na vida acadêmica, exercida na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde ensina literatura brasileira e portuguesa.

A narrativa, em terceira pessoa, apoia-se ainda em dois personagens inominados: um professor e uma cozinheira. O narrador principal conduz a trama, usa lances selecionados da trajetória de Floriano Peixoto, guarda coerência a fatos históricos, sem recorrer a tiradas eloquentes, comuns à história oficial, mesmo quando insere o protagonista em acontecimentos marcantes, como a Guerra do Paraguai e a Revolta da Armada. De permeio, seduz o leitor com casos e personagens secundários. Exemplos? O índio uruguaio de fala arrevesada, Maximiliano Ureña, incorporado à tropa imperial como símbolo da integração no campo de batalha da tríplice aliança contra Solano López. Outra figura: o pernambucano Silvino de Macedo, um rebelde intuitivo e quixotesco que afronta a autoridade republicana e termina sendo fuzilado.

E a cozinheira?

O professor e a cozinheira foram criados para trazer a narrativa à atualidade da vida política brasileira, num arranjo ousado, que permite a José Luiz brincar com diferentes tempos históricos. (Até Napoleão Bonaparte entre pela janela…). A figura da cozinheira emerge para lembrar a família e a origem alagoana de Floriano. Além da matriarcal habilidade feminina na cozinha, quem sabe, o autor insinua afinidades de gênero com a presidente Dilma Rousseff que vira personagem da vida real, com direito a transcrição de trechos de suas falas, adaptados à técnica ficcional. Até o discurso feito às vésperas do impedimento de Dilma lá está, incluído de última hora!

E o professor?

O professor intervém com pedantismo, arrota erudição, cita a propósito e sem propósito autores como Adam Smith, Karl Mark, Clarice Lispector. Em ressumo um chato! Perguntado por que caricaturar dessa maneira o professor, sendo ele mesmo um acadêmico, José Luiz respondeu sem ironia: vivo nesse meio, foi fácil caracterizar o personagem…

José Luiz Passos mergulhou na biografia de Floriano Peixoto e sua época. O romance respeita fatos históricos sem precisar recorrer as aspas, notas de rodapé e excessos de datas, usuais em ensaios, mas impróprios em obras de ficção.

Francisco Frassales Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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