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Francisco Cartaxo

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Os segredos de Eike Batista

06/02/2017 às 09h43

Eike parecia o Rei Midas, a figura mitológica que transformava em ouro coisas e gente. Bastava tocar. A ilusão durou pouco. Com fome e sede, Midas descobriu-se frágil. Pegou o pão, virou ouro, e água e fruta e tudo. E agora? Pediu e obteve a suspensão da mágica. Midas também se meteu em encrenca. Foi castigado: Apolo lhe deu orelhas de burro.

Eike Batista teve seus dias de Midas.

Muitos o viam como ícone do capitalismo moderno, empreendedor, ousado na diversidade de negócios gigantescos, sem barreiras geográficas. Até mais do que seu pai, Eliezer Batista. Engenheiro, estudioso da realidade brasileira, o pai despontou no mundo da política e dos negócios a partir da atuação no governo João Goulart, como dirigente da Cia Vale do Rio Doce, na época empresa estatal. Por isso, foi olhado com desconfiança pelos militares golpistas de 1964. Quase foi preso. O presidente Castelo Branco o salvou. No período de João Figueiredo, Eliezer retornou à Vale e deu grande ajuda ao País. E à ditadura. Atribuem a ele a ideia de aproveitar declividades naturais para dar velocidade ao transporte ferroviário do minério de ferro de Minas Gerais e do Pará pelos portos de Tubarão (ES) e Itaqui (MA). E barateá-lo. Viabilizou-se assim a exportação competitiva, por exemplo, do minério de ferro de Carajás até para a China. Vários outros projetos estratégicos fizeram de Eliezer Batista figura chave para o desenvolvimento brasileiro.

O prestígio do pai beneficiou o filho.

Muitas portas se abriram para Eike em todos os lugares. Sabido, garantiu para suas empresas – todas com um X na razão social – direitos de exploração de grandes jazidas minerais. Ele armou também empreendimentos fantásticos, vendeu ações no mundo inteiro, captou empréstimos de muitos bancos. Inclusive do BNDES. Por essas trilhas, acumulou invejável patrimônio, chegando a ser tido como a sétima maior fortuna do mundo! Políticos e empresários se voltavam para ele como os romeiros olham padre Cícero. Até porque em sua trajetória, propala-se um Eike Batista de bom coração, magnânimo, a doar gordas quantias a iniciativas e empreendimentos de caráter social. Um bondoso cidadão, aliás, como foi o patriarca do Juazeiro.

Bondoso e esperto.

Quando a Lava Jato firmou seu jeito sério de agir, colhendo em suas malhas peixes graúdos, que fez Eike? Apareceu em Curitiba, espontaneamente, para esclarecer que não dava propina, como quem diz, me deixem fora. Agora a conversa mudou. Eike, porém, continua com a mesma esperteza. Ainda no exterior, emitiu sinais de abraçar a delação premiada. Voou para o Rio, não sem antes usar a Rede Globo para elogiar a Operação Lava Jato e vislumbrar um futuro decente para as históricas relações patrimonialistas no Brasil. E na véspera de ser preso, pontuou:

Está na hora de eu ajudar a passar as coisas a limpo. Vou mostrar como são as coisas.

O rei Midas da mitologia viu o dom de fazer ouro tornar-se pesadelo e Apolo lhe pôr orelhas de burro. Envergonhado, o Midas grego escondia a deformação. Só o barbeiro conhecia o segredo, mas sem permissão para revelar, sob pena de ser morto. Coitado, o angustiado barbeiro contava o segredo a um buraco que ele mesmo cavara. Ah, mas as árvores em redor sussurravam o segredo e o vento se encarregava de espalhar.

Nosso Midas foi mais esperto. Ao pressentir as orelhas grandes, ele mesmo vai, de cabeça raspada, contar ao juiz carioca Marcelo Bretas segredos que nem o barbeiro sabe.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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