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Nadja Claudino

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Por que o time de Carlos Antonio perdeu

14/10/2008 às 17h50

A Laranja Mecânica parecia imbatível. Vinha jogando com regularidade e vencendo todos os jogos durante oito anos – lembro como se fosse hoje a conquista do seu primeiro título, em 2000. A imprensa e até mesmo os jogadores adversários reconheciam sua superioridade. Diziam que a essa altura do campeonato não havia mais como derrubar sua hegemonia. Diziam que ela tinha, inegavelmente, os atacantes mais matadores, os volantes mais ladrões de bola e os zagueiros mais intransponíveis, além de um banco de reservas de causar inveja a qualquer plantel. Diziam que ao entrar em campo, a luz radiante do uniforme laranja, por si só, já amedrontava. Enfim, diziam que toda a população da cidade de Cajazevisky, fanáticos inatos por futebol, já havia adotado o laranja como a cor da vida e morte – os cajazeviskianos aparentemente amavam a Laranja Mecânica mais que a eles próprios. 

Porém – me perdoem pelo desgastado chavão – futebol é uma caixinha de surpresas, irmão. Basta puxar pela memória o Milagre de Berna¹; os 6 x 0 da Argentina no Peru em 78² e, mais recentemente, o Cabañas no Maracanã³, e verás que não se pode mais entrar em campo nas graças do oba!oba!. O melhor time nem sempre ganha o jogo. Às vezes atravessa um quero-quero no meio do caminho e desvia a trajetória da bola que seria gol certo. Ou às vezes falta ao técnico um “quê” de Vanderlei Luxemburgo, um plim de estrategista. Quando se tem os melhores jogadores, mas não se tem estratégia, corre-se o risco do certame desandar para a derrota. E foi exatamente isso que aconteceu naquela fatídica tarde de 05 de Outubro de 2008 para a então gloriosa seleção de Carlos Antonio Van Araújo. 

O primeiro erro do renomado técnico foi de cunho supersticioso. Na minha singela opinião de razoável conhecedor de futebol, não deveria ele ter abandonado o uniforme laranja que tanto marcou seu time durante 8 anos de vitórias. Trocar o místico laranja pelo azul marinho em cima da hora, se não foi o erro capital, foi um erro sócio-cromático, igual ao que acontece com a relação entre a cor vermelha e o comunismo. Igual ao que acontece com o PT: se trocar o vermelho pelo azul, o PT acaba. Mas, pior que deixar de usar o uniforme laranja, foi ter que ver o adversário se apoderar dele. 

O segundo erro foi ter perdido a cabeça num momento complicado do campeonato e ter invadido o centro de treinamento do adversário para bater boca com um reles assessor de imprensa trajado de dirigente. A partir dali, a torcida passou a acreditar que a inabalável ex-Laranja Mecânica estava mesmo perdendo o controle ao passo que se aproximava a grande final. 

Mas o erro crucial aconteceu mesmo na escolha do atacante que bateria o último pênalti, o tento que decidiu toda a história. 

Lembro como se fosse hoje: estádio lotado, imprensa faminta a postos, as duas torcidas na expectativa, e de repente um silêncio balsâmico tomou conta do Cajazevisky Stadium. Todos esperando Carlos escolher seu último batedor. No banco, ansiosos, estavam dois dos melhores cobradores de pênaltis do time: nada mais-nada menos que Marcos Van Barros e Léa Van Silva. Ao lado, o não menos eficiente José Aldemir Van Meireles. E lá no cantinho, bem lá no cantinho mesmo, como quem estava se escondendo da dura responsabilidade, queixo batendo de medo e chuteira apertando o calo no calcanhar, estava ele: o inexperiente Mario Van Messias. E foi ele o escolhido. 

Correm por aí inúmeros boatos do ‘porquê’ da escolha de Van Messias. Afinal, todos sabiam da superioridade técnica dos outros batedores. Dizem por aí que ele e Carlos faziam parte de uma sociedade que se beneficiava com a compra e venda de jogadores, contratos com patrocinadores e outras delongas de marketing.

Mas… Enfim, à derrotada torcida agora sem cor, que não sabe muito bem a quem culpar pelo inesperado fracasso, motivos já não importam. Resta apenas na memória o pênalti mais mal batido da história. E olha que o goleiro adversário nem era lá essas coisas! Mas estava na cara que o tal de Mario Van Messias tinha o pé torto… Bem que eu tentei avisar.

1 – Episódio que marcou a inesperada derrota da seleção da Hungria na Copa do Mundo de 1954 para a Alemanha Ocidental. Na época, a Hungria tinha um time considerado por muitos como imbatível. Mas que na final da Copa acabaria perdendo para a Alemanha por 3 x 2. Acontecimento que mais tarde viraria filme, no ano de 2003.

2 – Caso da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, quando a seleção local precisava vencer o Peru por 5 gols de diferença para se classificar para a próxima fase e ao mesmo tempo tirar o Brasil da Copa pelo saldo de gols. Resultado? Argentina 6 x 0 Peru. Goleada contestada até hoje, já que alguns jogadores envolvidos na partida garantiram que o resultado foi comprado.

3 – Eliminação do Flamengo na Copa Libertadores da América de 2008. Após vencer o jogo de ida, fora de casa, por 4 a 2, o Flamengo conseguiu a proeza de perder no Maracanã para o América do México, por 3 a 0, com três gols do atacante Cabañas. Detalhe: o baixinho mexicano estava com alguns quilos acima do peso.

Jocivan Pinheiro também escreve no blog www.osfilhosdoshippies.blogspot.com

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