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Filha escreve para mãe: “Ficarei aliviada ao ver você no caixão”

A remetente falou sobre como nunca foi amada por sua genitora e desabafou sobre preferir ver a mãe morta

Por Diário do Sertão

08/01/2018 às 09h16

Depressed young woman in a dark room

Uma mulher não identificada publicou uma carta no site do jornal britânico The Guardian endereçada à mãe dela. O bilhete emocionou e revoltou os internautas. A remetente falou sobre como nunca foi amada por sua progenitora e desabafou sobre preferir ver a mãe morta.

Confira a íntegra do texto:
As pessoas não querem enfrentar a verdade. Elas continuam voltando, tentando melhorar, tentando entender seus pais. Elas fazem terapia e tentam trabalhar em si mesmas. Eu também fui à terapia. Mas tudo o que aconteceu foi para confirmar o que eu já sabia.

Eu já odiava você. Eu não sei o quanto eu era jovem quando deixei de te amar. Oito ou nove anos, provavelmente, em uma daquelas idades feias, quando você não é mais uma garotinha fofa, mas ainda não é uma jovem atraente. Quando só sua mãe te ama.

Deve ter tido um dia. Um evento. Provavelmente uma daquelas sessões de gritos porque eu estava riscando meu nariz, ou porque tinha olhado para você engraçado, ou porque você me fez uma pergunta e minha resposta não atingiu aquele tom que você esperava.

Passei tanto tempo tentando descobrir o que te deixou assim, mas a verdade é que não era nada comigo. Eu era um saco de pancadas conveniente. Talvez alguém tinha sido desagradável com você no trabalho, ou acusado você de furar a fila do ônibus. E então, você chegava e esperava que eu fizesse algo que te irritasse para que, de repente, eu estivesse voando pela sala, sua mão no meu ombro, sua boca salivando de raiva, seu rosto a polegadas do meu. Você é horrível, uma pessoa terrível.

Não havia nome para isso enquanto eu crescia. Os momentos de raivas insanas seguidos por dias de total silêncio. O controle absoluto sobre o que eu usava, quem via, onde eu ia. E a falta de incentivo para que eu aprendesse quaisquer habilidades ou fizesse qualquer tipo de movimento buscando independência.

Era muito estranho para as pessoas entenderem. Vivíamos em um local onde os viciados em drogas deixavam suas crianças andarem nas ruas até altas horas; onde havia casas nas quais você poderia entrar e encontrar cocô no chão e geladeira sem comida. Fui bem alimentada, tinha roupas e nunca me meti em problemas. Um abuso como o seu não tinha registro. Mas ainda assim era abuso.

Eu mantive relações com você depois que saí de casa e enquanto meu pai estava vivo, para que pudesse vê-lo. Eu sabia que se eu rompesse com você, você transformaria a vida dele em um inferno sempre que ele quisesse me encontrar. Ele fez planos para deixá-la, sabia? Ele queria me levar embora, mas tinha medo de não conseguir a custódia. Papai só me disse isso depois que eu saí de casa.

Depois que ele morreu, eu disse a mim mesma que continuaria a entrar em contato com você para que não me sentisse culpada quando você morresse. Afinal, você era minha mãe. Mas, às vezes, quando ouvia alguém dizer, sem culpas, que vivia afastado da família, sentia inveja. Eu não fui boa para você, de qualquer maneira.

Você precisava manter a aparência de uma mãe amorosa, então se forçou para me ver de vez em quando. No entanto, não era mais divertido porque aprendi a não reagir a você. Você não poderia me machucar. Isso te frustrou e, depois de um ou dois dias conosco, você quis ir para casa.

Você se superou no final. Havia um nível de pesar que eu estava preparada para aguentar, mas então você atacou meu filho, e foi isso. Eu interpretei bem o papel, me comportei como a anfitriã perfeita durante o resto da sua visita. Eu até te dei um beijo de adeus no aeroporto. Mas enquanto eu assistia você caminhar até o portão, eu jurei que na próxima vez que eu te visse, você estaria em seu caixão. E não senti nada além de alívio.

Metrópoles

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