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VÍDEO: Para especialistas, só repressão não evita consumo de drogas: “É questão de saúde e das famílias”

Os profissionais discorreram sobre o uso recreativo e medicinal da maconha, depressão, suicídio e vários outros assuntos relacionados ao tema principal que é a "Problemática das drogas no Brasil"

Por Luiz Adriano

30/01/2024 às 18h27

O programa Olho Vivo da Rede Diário trouxe nesta terça-feira (30), no quadro Diário Saúde apresentado pelo médico anestesiologista, Dr. Saulo Viana o tema da ‘Problemática das drogas no Brasil’, e para isto, o profissional da saúde entrevistou o médico psiquiatra, Dr. Arnaldo Júnior e o Dr. Deusimar Guedes, advogado, psicólogo, agente especial aposentado da Polícia Federal do Brasil e especialista no referido assunto.

Dr. Deusimar tem 30 anos de Polícia Federal e trabalhou as três décadas com foco especificamente na repressão ao tráfico de drogas.

Ele considera que nesses 30 anos as polícias como um todo, não apenas a PF, melhoraram muito em vários fatores, tais como: qualificação dos policiais, armamento, tecnologia, serviço de inteligência, perícias, entre outros. No entanto, segundo o profissional de segurança, o problema das drogas piorou.
“Se a polícia ou o aparelho repressor como um todo melhorou 10 vezes mais nesses 30 anos, o crime evoluiu 30, 40, 50%”, ressaltou.

O ex-policial federal enfatiza que o problema das drogas não se restringe apenas ao fator segurança. Ele ressalta que toda a sociedade tem responsabilidade social neste sentido.

Tema sobre a “Problemática das drogas no Brasil” na TV Diário do Sertão: Foto: Diário do Sertão

“A conclusão que eu chego é que a repressão, apesar de importante, ela sozinha não faz frente a esse grave problema que é a droga. A sociedade precisa se conscientizar que esse é um problema não só da segurança pública, é um problema da saúde pública, é um problema da assistência social, é um problema das famílias, é um problema da sociedade como um todo”, reforçou.

Entrevista mediada pelo médico anestesiologista, Saulo Viana – Foto: Diário do Sertão

Deusimar pontua a deficiência no Brasil com a falta de investimento na educação sobre prevenção às drogas e com a escassez de tratamento qualificado para aqueles que já estão envolvidos. “Hoje se investe muito na repressão, mas nas vertentes da saúde e da educação ficam a desejar”, disse.

MOTIVAÇÃO AO USO DAS DROGAS

Quanto à motivação que leva o indivíduo a usar droga, segundo o psicólogo, é muito diversificada, mas ele destaca que a maioria dos usuários acaba seguindo um “modismo”. Ele falou sobre as drogas lícitas como bebida alcoólica e o tabaco – “Quanto mais fácil o acesso a uma substância e quanto mais tolerante a sociedade for com certos comportamentos, mais eles tendem a se repetir, então essa tendência de aumento ela se deve muito a isso, ao fácil acesso às substâncias e a tolerância da sociedade em relação a esse comportamento de consumo, especialmente em relação às drogas legalizadas”.

O profissional destaca que a influência do grupos de amigos, a facilidade com que se encontra drogas e a tolerância da sociedade, “são os principais fatores que têm levado às pessoas ao uso indevido de drogas”.

Dr. Deusimar Guedes, advogado, psicólogo e agente especial aposentado da Polícia Federal do Brasil – Foto: Diário do Sertão

DROGAS MAIS PERIGOSAS NO BRASIL

O psiquiatra, Dr. Arnaldo Júnior, falou que a cocaína e o crack acabam sendo classificadas como as mais perigosas no Brasil, devido sua ampla utilização em decorrência tanto da questão de valores, como também das formas de se conseguir os entorpecentes no país. Ele ressalta que são drogas com um alto poder de dependência.

MACONHA: USO RECREATIVO E MEDICINAL

“A sociedade tem parado para discutir essa questão, mas ela não tem um embasamento suficiente para tomar as decisões que aparenta tomar”, disse o médico em relação ao uso medicinal da maconha.

Dr. Arnaldo Júnior explicou que assim como o cigarro, a Cannabis também contém uma série de diversos derivados químicos, fitoquímicos e com ações diferentes no próprio sistema nervoso central e também em outras partes do organismo.

“A maconha não é tão inofensiva quanto aparenta ser e nós precisamos fazer exatamente, aquilo que é fazer com que as pessoas entendam que as fontes que oferecem informações precisam ser realmente confiáveis, fontes bem validadas, e não simplesmente aquelas pessoas que têm mais curtidas ou mais seguidores em redes sociais por exemplo, mas que não dominam o assunto”, alertou.

O profissional da saúde relatou que há muitas pessoas que não têm domínio sobre o assunto, mas falam por exemplo que é um consumo inofensivo e que não vai haver efeito nem a médio nem a longo prazo, “e que não é verdade do ponto de vista do uso recreativo”, pontuou.

“Existe sim uma possibilidade importante de que a maconha possa ser um fator desencadeador, um gatilho importante para algumas psicopatologias, especialmente os transtornos psicóticos, e ai entra por exemplo: a esquisofrenia, o transtorno bipolar, casos depressivos. Na realidade não é que a droga vai causar, mas ela pode despertar aqueles fatores que estão atentos no organismo e que através daquele estímulo, as doenças podem se manifestar e são doenças crônicas, que necessariamente terão que ser acompanhadas por um especialista durante toda a vida”, detalhou.

Dr. Arnaldo Júnior – psiquiatra – Foto: Diário do Sertão

BENEFÍCIOS

Quanto aos benefícios que a maconha pode trazer ao ser humano, o médico destaca que a planta “se torna algo interessante”, mas que “é preciso separar quais frações, quais fitoquímicos que podem trazer benefícios na saúde humana”.

“O canabidiol é indicado para algumas situações e oficialmente liberado pela ANVISA no Brasil para tratamento por exemplo de epilepsias refratárias. Existem grupos de pesquisa e existem efeitos positivos também em casos de autismo severo, em casos de síndromes demenciais, e ai realmente nós temos realmente algum ganho neste sentido, porém eu repito: essa é a fração purificada, é a fração que a indústria consegue selecionar para o uso médico, para o uso direcionado”, explicou com detalhes.

CULTURA

O Dr. Deusimar Guedes que também é advogado, falou que nos países ocidentais têm muitos estímulos ao uso de drogas. Ele pontua que é contra a propaganda de drogas terapêuticas.

“Tem havido flexibilização da maconha. Eu acho que essa glamorização em relação às drogas, como um todo, seja terapêutica, seja as legalizadas, seja as ilícitas como a maconha ainda é, é muito danoso à saúde pública da sociedade”, argumentou.

Deusimar Guedes disse que é contra a propaganda de drogas terapêuticas – Foto: Diário do Sertão

MISTURAS DE ENTORPECENTES NO ORGANISMO

O médico Dr. Arnaldo Júnior disse que “não existe uma droga limpa, existem drogas que são menos danosas e a partir do momento que a pessoa faz uso de forma cocomitante e indiscriminada de múltiplas drogas, então isso traz um efeito terrível para o organismo”.

“Vamos ter ali efeitos sedativos potencializados, efeitos dissociativos potencializados, ou seja, a pessoa vai ter mais chance de romper com a realidade ainda que no tempo curto, mas que isso vai propiciar em situações de risco”, destacou.

DIFERENÇA DE GERAÇÕES

O Dr. Deusimar Guedes alertou para as características da geração atual e disse que costuma dizer que trata-se de uma “geração de cristal”.

“Não tem resiliência nenhuma. A resiliência é muito baixa. Por tudo entra em depressão. Quem é que não teve um apelido na escola na minha geração? Mas um apelido na escola é bulling e é sinônimo de depressão, é sinônimo de uma série de fatores, de medicamentos, tem que recorrer à farmacologia, à psicologia, uma série de coisas, é a geração de cristal”, relatou.

“Perdemos a régua da educação. As famílias, acho que passaram por uma época de repressão no país que foram muito tolhidas, foram criados com os pais muito rigorosos e depois começaram a afrouxar demais, então é preciso que a sociedade encontre novamente essa régua, essa medida da educação que não é simples, mas que a gente tem que ter essa consciência e que precisa e essa é obrigação”, pontuou.

MÉDICO CONCORDA

O médico psiquiatra Dr. Arnaldo Júnior concordou com o argumento de Dr. Deusimar Guedes. Ele falou que é um fato a questão da falta de limites e como os pais não sabem lhe dar com as demandas dos filhos.

“Geração muito frágil e que de fato por tudo já pensa em algo mais sério do tipo: ‘ah, eu não consigo, eu não vou em frente, eu vou me matar’. É um tema muito delicado e que é extremamente presente no cotidiano da psiquiatria”, disse.

Os profissionais concordaram em relação à fragilidade de geração – Foto: Diário do Sertão

PERIGO DA TECNOLOGIA

O médico lembrou ainda sobre os perigos da tecnologia nos dias atuais. Ele ressalta que gerações brasileira, norte americana, europeia, entre outras, têm surgido com uma mudança muito grande de paradigmas, de processos trabalhistas e de comportamentos.

“A tecnologia veio como uma ferramenta excelente para alavancar o desenvolvimento da humanidade, mas existe muita divulgação do que não deveria e muitas vezes os pais se perdem nesse processo. Os filhos muitas vezes se refugiam nas redes sociais, mas são sozinhos na prática. Trancados no quarto, isolados muitas vezes, tristes, sem motivação, mas alimentam um ego que vivem no universo paralelo que é o metaverso, isso traz impactos extremamente ruins na formação de cada ser humano”, explicou.

“Eu concordo sim que faltam esses limites. Os pais hoje têm trabalhado cada vez mais e os filhos têm tido contato com os mesmos cada vez menos, então os nossos referenciais, os nossos ídolos, eles têm sido escassos, e quem é que assume esse papel, é aquele blogueiro que não tem um conteúdo de fato que possa influenciar […]”, completou o raciocínio.

Dr. Arnaldo Júnior falou sobre os riscos do vício digital – Foto: Diário do Sertão

DEPRESSÃO/SUICÍDIO

Dr. Arnaldo disse que há uma “relação extremamente direta” entre o uso de drogas e o suicídio. “Muitas pessoas acabam se refugiando por alguns problemas nas drogas, outras vezes simplesmente a pessoa nem tinha problema, mas ela por curiosidade, por pressão daquele grupo específico e questões culturais, tentou provar aquela droga e ai existem drogas que têm um efeito depressor do sistema nervoso central não apenas no sentido de causar uma sonolência, uma redução de um nível aumentado de ansiedade, mas também causar uma queda de humor, então, tanto a droga pode ser causa para os processos depressivos e que culminam no mais grave que seria o suicídio, quanto também as pessoas que já têm os processos instalados, podem procurar como alternativa algum tipo de droga que possa trazer esse alívio”, explicou.

O médico explica sobre tratamento de pessoas depressivas e como deve ser indicado as terapias necessárias para cada paciente. (Ver entrevista completa no vídeo que está abaixo do texto).

Dr. Arnaldo Júnior à esquerda e Dr. Deusimar Guedes à direita – Foto: Diário do Sertão


Os profissionais ainda destacaram assuntos como a Lei Seca e outras políticas públicas que focam diretamente no combate ao uso de drogas, sejam elas lícitas ou não. Eles falaram sobre os pontos positivos e negativos das formas como essas políticas têm sido administradas pelo poder público.

Outro tema importante tratado por eles, é sobre o vício digital, a Ludopatia. Tais sub-temas podem ser acompanhados no vídeo, abaixo do texto.


Saiba mais sobre o Dr. Arnaldo Júnior em: @dr.arnaldomoreirapsiquiatra. Sobre Deusimar Guedes é só acessar @deusimarguedes. Seu e-mail é: [email protected]

Deusimar Guedes expondo seus três livros – Foto: Diário do Sertão

Deusimar Guedes tem três livros de sua autoria, são eles: ‘Drogas: problema meu e seu’, ‘Drogas, Família e Escola’ e ‘Drogas: como lhe dar com o problema’.

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

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